segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Viagem ao Reino de Bué Bué de Azul

No rescaldo de mais uma viagem da Águia ao Dragão, penso que é consensual para todos os não-lagartos que o empate soube a pouco.
Claro que foi um bom jogo, com ocasiões de golo para ambos os lados, o benfica dominando na 1ª parte e o porto na 2ª, mas no final quem se riu foi o Sporting, que foi passear-se ao Estoril, que falhou tantos golos que o resultado até cheirou a combinado...


O Benfica mereceu ganhar e os jogadores do Porto mereciam ganhar juízo.Com tanta cotovelada qualquer dia entram a jogar com 10...

No fim saldo positivo em mais uma viagem ao reino de Bué Bué de Azul, não pelo resultado mas:
  • pela atitude! Que ninguém diga que os jogadores do Benfica tiveram medo do "bafo" do dragão!
  • pela exibição!Mostrámos um jogo fluido, boa posse de bola, não demos muitos "brindes" mas não aproveitámos as ofertas dos tripeiros...
  • pela ironia do destino!Quando o João Pereira simulou agressão contra o Sporting, um certo e bem conhecido (embora nunca me tenha sido apresentado) dirigente do FCP afirmou que o puto devia ser expulso do mundo do futebol... Bem, ninguém registou declaração semelhante do dito dirigente acerca da atitude do Ricardo Costa no derby...
  • Pelo Silêncio! É tão gritante este silêncio do dourado presidente do FCP!

sábado, fevereiro 26, 2005

Lição de vida

Hoje acordei tarde, ensonado e rabugento. A noite de estudo ontem até correu bem, mas na minha mente surgiam visões de um futuro próximo bastante conturbado.
Mas foi quando me sentei no sofá e liguei a SIC Notícias (enquanto calmamente descascava uma laranja) que me senti realmente deprimido.

Estavam a passar a notícia do jovem estudante palestiniano, de 21 anos, que se fez explodir à porta de uma discoteca em Telavive.

As emoções abateram-se sobre mim como uma avalanche.
  • Raiva contra o suicida, por acreditar que o seu assassino sacrifício iria mudar alguma coisa.
  • Ódio àqueles que sucessivamente ficam para trás para "lobotomizar" mais fiéis e manter a causa "viva", enquanto mandam putos para a morte.
  • Solidariedade com as famílias das vítimas.
  • Solidariedade com a família do suicida, também ele uma vítima, combustível para o motor do ódio.
  • Revolta contra as mediações parciais que acabam sempre por tapar o caminho da paz.
  • Raiva contra aqueles que fomentam, com as suas políticas, os crimes que juraram combater.
  • Ódio à xenofobia e ao racismo, que reinam livres no seio do povo que mais sofreu com a violência desses pensamentos.
  • Frustração de estudar e assistir ao desenrolar de um processo tão complexo quanto violento, que a Comunidade Internacional classifica comodamente de insolúvel.
  • Revolta contra mim próprio, que minutos antes me lamentava por ter tanto trabalho ainda pela frente e decisões importantes a tomar.

Eu devia era estar radiante por ter uma vida que me permite preocupar com qual o futuro que quero para mim, a mulher com quem quero ficar, o tipo de emprego que devo procurar, enfim...

A lição que tiro é que acoplado ao direito de poder escolher vem o dever de fazer escolhas e assumi-las. É uma dádiva, um privilégio que nos deve obrigar a trabalhar para o merecer, senão talvez seja melhor trocar de lugar com aqueles que ainda lutam pelo seu direito a uma vida sem guerras nem ódios, pois decerto eles saberiam dar valor àquilo que para nós é garantido, insuficiente.

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Diarreia mental na biblioteca

Hoje, ao avançar no meu estudo,deparei-me com uma curiosa afirmação de Carl Sagan, acerca do eterno confronto entre os defensores do método científico e os pseudo-cientistas das verdades fáceis:

"Num mundo infestado de demónios em que vivemos pelo facto de sermos humanos, isto (método científico) pode ser tudo o que nos separa da escuridão envolvente."

Se extrapolarmos a substância para um nível mais cósmico das relações entre os seres humanos, e assumindo as emoções primitivas que nos movem e refutam constantemente as regras de racionalidade, teremos nós tanto medo de aceitar a nossa natureza que nos agarramos desesperadamente à tábua do abstracto, à efémera condição de seres dedicados ao pensamento?

Ou, pelo contrário, é essa capacidade estraordinária de sairmos de nós próprios que nos permite questionar e corrigir o nosso "eu", criar regras que nos permitam viver as nossas emoções de uma forma moderada, isto é, sem invadir a liberdade dos outros? Será que seríamos capazes de entender o que está errado num dado momento e fazermos parte da solução?

Não sei...

Um olhar para fora de Liliput

Os últimos 10 dias foram sem dúvida férteis e interessantes no que respeita à novela nacional, mas na dimensão internacional passaram-se coisas importantes!

A Europa teve pela 1ª vez o privilégio de receber o novo Bush, versão santo, completo com auréola e tudo! Quem precisa de um Santo António para pregar aos peixes quando temos o Santo Bush?
A verdade é que o nosso texano favorito trouxe nos alforges uma mão cheia de boas notícias, ou pelo menos era o que o pistoleiro pensava.

Começou por afirmar que não está a planear invadir ninguém nos próximos meses (que alívio!), depois congratulou-se pelo excelente resultado nas eleições no Iraque, por isso os fins justificaram os meios e agora já podemos ser amigos de novo.
Lembrou ainda a necessidade de unir esforços para apoiar os pequenos avanços no conflito entre Israel e o Estado Palestiniano e louvou os esforços europeus para travar diplomaticamente o desenvolvimento de armas nucleares no Irão.

Apesar do meu cepticismo e sarcasmo, quero acreditar que esta nova atitude se vai manter e continuar a marcar pontos, e é essencial que os EUA e a EU concordem sobre vários assuntos, desde a reforma em curso da ONU e da OTAN, à concertação de estratégias para regiões como os Balcãs e a venda de armamento à China.

De assinalar também o bom sinal dado pela Índia e o Paquistão, que anunciaram a criação de uma linha de autocarros que atravessa a linha de cessar? – fogo entre ambos, no enclave de Caxemira. Como algo tão mínimo como isto pode ser notícia demonstra que há um longo caminho a percorrer para a resolução pacífica deste conflito potencialmente nuclear, mas é com pequenos gestos que gradualmente é possível acreditar que ao fundo do túnel pode estar a luz.

Esperança renovada para Moçambique, onde o recém-eleito presidente Armando Guebuza promete maior abertura ao investimento estrangeiro e uma melhor organização da administração pública. Boas perspectivas para um povo que face a tantas adversidades luta dia-a-dia por um futuro melhor.
Um bom exemplo para muitos outros povos…

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Lista das compras do dia

Hoje (22) é um novo dia para a democracia portuguesa, e à medida que a poeira assenta registo aqui algumas notas sobre os acontecimentos dos últimos dias:
  • Fico contente pelo recuo de 3.5% da abstenção face às últimas legislativas e faço votos para que a tendência se mantenha.
  • Aplausos para o honrado pedido de demissão de Paulo Portas que soube assumir a sua derrota.Assobios para o seu mais que provável regresso...
  • Apupos para Sócrates que no discurso de domingo agradeceu ao Partido a vitória que os portugueses lhe deram, mas para estes últimos nem pio nem có-córó-có, ficam os objectivos...
  • Lágrimas para o menino guerreiro, que continua numa dramática carpideira, porque o Sócrates lhe roubou a música do guerreiro, deixando-o a cantar a letra do gonzaguinha sem ritmo nem voz, e vulnerável á longa lista de cobradores de fraque e pin laranja que lhe batem á porta.
  • Alívio para o tripeiro do apito dourado, agora que voltou ao poder a política do abafo e do "tá-se bem, mas passa para cá a massa", já pode vir à televisão a tempo de mandar uns recados para o Benfica antes do derby.
  • Tristeza pela irmã Lúcia, mulher de uma fé enorme, ( numa religião em que não creio, perdido que estou no cinzento agnosticismo) digna de admiração. Deixo apenas um pedido para que se ainda não foi feito, que se publiquem as duas memórias que a irmã escreveu, para que se possa conhecer a história de uma vida que se quer santa, contada na primeira pessoa ( e que sirva a sua memória em primeiro lugar, não os interesses da Igreja).
  • "Last but not least", a vitória do meu Benfica frente ao Guimarães, num bom jogo que fica manchado pelas declarações de Manuel Machado, que vê cabalas em cada esquina mas não vê o Rafael a marcar ao João Pereira uma consulta extraordinária no dentista...
Espero em breve escrever algo sobre acontecimentos internacionais importantes que também tiveram lugar nestes dias... Estejam atentos!

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

The day after domingo

Chegou finalmente ao fim o dia em que a social democracia portuguesa meteu baixa e ficou em casa, de telefones desligados e a assistir ao Wrestling radical para descarregar a frustração.
Que cálvário!
O único alívio nesta miséria anímica foi a notícia que o moribundo C.N.E. afinal funciona e mostrou que não tem problema nenhum em aplicar a pesada multa de 50 cêntimos ao dr.Mário Soares por ter apelado à maioria absoluta em dia de eleições! Que se faça justiça!

Contentes ficaram também os socialistas, comunistas e louçanistas, que por sinal também meteram baixa para curar a ressaca dos copos (e outras substâncias mais legalize), numa clara demonstracção de que a esquerda também sai à noite e ouve música comercial.

Mas mal inicia o PS esta caminhada governativa, pois com tanta gente de baixa este rescaldo soa cada vez mais a feriado por decreto, mais um belo dia como tantos outros em que a malta se esforça ao máximo por não fazer nenhum,e quem pretende rigor não pode dar abébias...

domingo, fevereiro 20, 2005

O último a votar leva com o taco de Basebol

Hoje lá vamos colocar o papelinho na caixa preta e escolher entre o galo da night, o galo efeminado,o galo das feiras,o galo afónico e o galo que fala fala mas ( já sabem o resto)....

Quais destas pitorescas personagens vão emergir vitoriosas do dia de amanhã?
R: Todas, como sempre.

Será que os portugueses vão sair a ganhar desta eleição inesperada?
R:não sei, mas pelo menos os candidatos eleitos decerto ficarão a ganhar.

Será que tudo isto terá valido a pena?
R:Bem,pelo menos deu para lavar roupa suja, beber uns copos, rir das capas dos jornais , dos cartazes, e abafar um pouco o "apito da coincidência".

Olhando para todo este panorama, desejaria para o dia de hoje uma demonstração inequívoca de espírito democrático por parte do povo português. É preciso entender o voto como um dever para com a nossa consciência, a expressão da nossa voz, um imperativo moral.

Há quem afirme que não vai votar porque o seu voto não vale nada, que tudo continuará na mesma... Talvez tenham razão, talvez não, mas a verdade é que tiveram a oportunidade de expressar democraticamente a sua vontade e escolheram não o fazer, e fazê-lo é justificar a indiferença de que se afirmam vítimas por parte dos políticos.

Não ir votar é sair do edifício democrático, é renunciar ao direito de reinvindicar algo da classe política!

sábado, fevereiro 19, 2005

Referendo sobre o aborto: Round 2

Todos nós vivemos as nossas vidas de acordo com um determinado conjunto de princípios e valores com que nos identificamos e que decorrem da forma como fomos socializados.

A questão de despenalização ou liberalização do aborto é um tema de hoje e da agenda política, mas mais ainda é um tema que mexe com o íntimo de cada um de nós, com a ética e a moral, é um problema a preto e branco, sem espaço para decisões consensuais.

Urge formularmos a seguinte pergunta:

O país quer ou não um referendo sobre o aborto antes de 2006?

O que pensa o povo, o que pensamos todos nós?

Os portugueses têm assistido há alguns anos ao confronto entre os movimentos pró-liberalização e pró-vida, os primeiros porque consideram que a elevada taxa de abstenção (68,6%, reflexo da data escolhida de 28/06/1998 , pleno verão), a diferença tangencial (50.000 votos entre o sim e o não) e a falta de informação justificam, por si só, uma nova consulta popular. Os segundos, já tendo passado pelo arrepio de um referendo, pretendem a todo o custo impedir a realização do dito, contra barcos, debates televisivos e a consciência de muitos.

Uma verdade consensual para todos sustenta que os portugueses sabem hoje muito mais acerca das grandes questões que envolvem a interrupção voluntária da gravidez. Em quase 7 anos que passaram viram fotos, assistiram a debates e reportagens, enfim, toda uma panóplia informativa que teve também como efeito motivar os cidadãos a “extremar” as suas posições a favor ou contra.

Os portugueses estão saturados deste tema porque já formaram uma opinião segura, em consciência! Querem ser ouvidos e decidir, querem chamar a si a resolução deste problema e cabe aos políticos proporcionar-lhes essa oportunidade, ou não serve a política para servir os interesses do povo?

Será um dia pleno para todos os decisores políticos que colocam os desejos e aspirações da sociedade portuguesa acima dos seus próprios interesses, credos e conflitos ideológicos.
É preciso devolver o poder da palavra aos portugueses, que anseiam por participar numa decisão definitiva para esta questão que, a arrastar-se por mais tempo, arrisca-se a deixar feridas profundas no nosso tecido social.