sábado, fevereiro 26, 2005

Lição de vida

Hoje acordei tarde, ensonado e rabugento. A noite de estudo ontem até correu bem, mas na minha mente surgiam visões de um futuro próximo bastante conturbado.
Mas foi quando me sentei no sofá e liguei a SIC Notícias (enquanto calmamente descascava uma laranja) que me senti realmente deprimido.

Estavam a passar a notícia do jovem estudante palestiniano, de 21 anos, que se fez explodir à porta de uma discoteca em Telavive.

As emoções abateram-se sobre mim como uma avalanche.
  • Raiva contra o suicida, por acreditar que o seu assassino sacrifício iria mudar alguma coisa.
  • Ódio àqueles que sucessivamente ficam para trás para "lobotomizar" mais fiéis e manter a causa "viva", enquanto mandam putos para a morte.
  • Solidariedade com as famílias das vítimas.
  • Solidariedade com a família do suicida, também ele uma vítima, combustível para o motor do ódio.
  • Revolta contra as mediações parciais que acabam sempre por tapar o caminho da paz.
  • Raiva contra aqueles que fomentam, com as suas políticas, os crimes que juraram combater.
  • Ódio à xenofobia e ao racismo, que reinam livres no seio do povo que mais sofreu com a violência desses pensamentos.
  • Frustração de estudar e assistir ao desenrolar de um processo tão complexo quanto violento, que a Comunidade Internacional classifica comodamente de insolúvel.
  • Revolta contra mim próprio, que minutos antes me lamentava por ter tanto trabalho ainda pela frente e decisões importantes a tomar.

Eu devia era estar radiante por ter uma vida que me permite preocupar com qual o futuro que quero para mim, a mulher com quem quero ficar, o tipo de emprego que devo procurar, enfim...

A lição que tiro é que acoplado ao direito de poder escolher vem o dever de fazer escolhas e assumi-las. É uma dádiva, um privilégio que nos deve obrigar a trabalhar para o merecer, senão talvez seja melhor trocar de lugar com aqueles que ainda lutam pelo seu direito a uma vida sem guerras nem ódios, pois decerto eles saberiam dar valor àquilo que para nós é garantido, insuficiente.

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