Todos nós vivemos as nossas vidas de acordo com um determinado conjunto de princípios e valores com que nos identificamos e que decorrem da forma como fomos socializados.
A questão de despenalização ou liberalização do aborto é um tema de hoje e da agenda política, mas mais ainda é um tema que mexe com o íntimo de cada um de nós, com a ética e a moral, é um problema a preto e branco, sem espaço para decisões consensuais.
Urge formularmos a seguinte pergunta:
O país quer ou não um referendo sobre o aborto antes de 2006?
O que pensa o povo, o que pensamos todos nós?
Os portugueses têm assistido há alguns anos ao confronto entre os movimentos pró-liberalização e pró-vida, os primeiros porque consideram que a elevada taxa de abstenção (68,6%, reflexo da data escolhida de 28/06/1998 , pleno verão), a diferença tangencial (50.000 votos entre o sim e o não) e a falta de informação justificam, por si só, uma nova consulta popular. Os segundos, já tendo passado pelo arrepio de um referendo, pretendem a todo o custo impedir a realização do dito, contra barcos, debates televisivos e a consciência de muitos.
Uma verdade consensual para todos sustenta que os portugueses sabem hoje muito mais acerca das grandes questões que envolvem a interrupção voluntária da gravidez. Em quase 7 anos que passaram viram fotos, assistiram a debates e reportagens, enfim, toda uma panóplia informativa que teve também como efeito motivar os cidadãos a “extremar” as suas posições a favor ou contra.
Os portugueses estão saturados deste tema porque já formaram uma opinião segura, em consciência! Querem ser ouvidos e decidir, querem chamar a si a resolução deste problema e cabe aos políticos proporcionar-lhes essa oportunidade, ou não serve a política para servir os interesses do povo?
Será um dia pleno para todos os decisores políticos que colocam os desejos e aspirações da sociedade portuguesa acima dos seus próprios interesses, credos e conflitos ideológicos.
É preciso devolver o poder da palavra aos portugueses, que anseiam por participar numa decisão definitiva para esta questão que, a arrastar-se por mais tempo, arrisca-se a deixar feridas profundas no nosso tecido social.
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