terça-feira, outubro 16, 2012

Não quero ficar sem a Sagres!


Querido Blog,

"Prenderam a Libertad"!
Esta exclamação pode bem ter sido uma das manchetes de um qualquer jornal argentino, um dia depois da apreensão da fragata "Libertad" , no Gana. Esta fragata é propriedade de um Estado, que em 2001 decidiu não pagar as suas dívidas, e hoje enfrenta múltiplas acções judiciais, que determinam a apreensão e congelamento de bens, tal como qualquer banco faria à nossa casa, se anunciarmos que não pagamos mais a prestação.
Como não é possível confiscar um país inteiro, os tribunais vão atrás de todos os bens e activos que estejam ao seu alcance, para fazer cumprir a lei.

A Argentina, naquele período, tinha uma economia mais virada para as exportações, sobretudo agrícolas, e beneficiou de um aumento para mais do triplo do preço da soja, naquele período. Não evitou o pior, mas sempre ajudou um pouco a dar a volta.
11 Anos depois da hecatombe, a Argentina está ainda a recuperar dos efeitos da sua decisão, um crescimento frágil e contestado por especialistas, nomeadamente os números oficiais do governo argentino para a inflação, que não batem certo com o que se verifica no país. Ou seja, hoje ainda não conseguimos determinar com segurança se é sequer possível a um país sobreviver económica e socialmente a um default, ou se fica antes condenado a uma existência moribunda durante décadas.

Hoje, Portugal encontra-se numa encruzilhada semelhante, com a sua soberania condicionada, e enfrentando o mesmo dilema: Austeridade ou Incumprimento?

No meio deste dilema, está a minha geração, a primeira que nasceu numa democracia plena, aquela que é considerada a melhor preparada de sempre. Mas a pergunta inquietante é: preparada para quê?
Até agora, a única certeza absoluta que a minha geração tem, é que vai pagar bem caro as loucuras faraónicas de alguns, uma "conta calada" que ainda nem se conseguiu saber exactamente quanto é.
Como não quero ficar sem a Sagres, nem tudo o resto de valor que os credores consigam deitar a mão, naturalmente prefiro sofrer e pagar agora, do que ir sofrendo e pagar muito mais, durante muito mais tempo.
Compreendo que muitos dos meus compatriotas não partilhem desta escolha, e se manifestem em defesa da outra alternativa, porque afinal não queriam as estradas nem as escolas de luxo, querem menos despesa (menos Estado), mas querem que o Estado continue a tomar conta deles (mais Estado).
Compreendo, mas não concordo e não aceito!
Eu não quero que aconteça ao meu país o que aconteceu à Argentina, não quero não poder levantar o meu dinheiro, porque os bancos congelaram as minhas contas, não quero sair do Euro e perder o acesso ao Mercado Único, não quero passar dos actuais 15% para os 40% de desemprego, com o colapso total do mercado interno.
Agora que já disse o que eu não quero, vou dizer o que não vou fazer:

Não vou desistir de lutar pelo meu país!
Não vou distrair-me com os Velhos do Restelo nem com os reféns dos poderes instalados!
Não vou deixar-me levar por aqueles, que por desespero ou fanatismo ideológico, conspiram e participam activamente numa tentativa de sabotar o país,conduzindo-o à bancarrota!

Porque este país é de todos, portanto também é meu e teu. 

E eu não quero ficar sem a  Sagres!










Sem comentários: