quarta-feira, novembro 13, 2013

'Se não há modificação na Europa vamos para uma nova guerra'



Querido Blog,

Quem me conhece sabe que não sou nenhum fã de Mário Soares,
Temos assistido, no último ano, a declarações do antigo Presidente da República, da maior gravidade e irresponsabilidade.
Mas hoje, em Paris, Mário Soares despiu "a farda" de guerrilheiro radical, e vestiu uma outra, a do estadista que conquistou o respeito de muitos, e a admiração de alguns.
Discordo da sua caracterização do papel de Durão Barroso como Presidente da Comissão Europeia, e não acredito em teorias políticas baseados em "saltos de fé", uma crença religiosa na "chegada da cavalaria" vinda do outro lado do Atlântico.
Mário Soares tem medo. E tem razão para ter. 

O crescimento dos movimentos/partidos radicais à esquerda e à direita na Europa é, de facto, preocupante.
Não só pela representatividade que vão conquistando, dentro e fora do sistema democrático, mas sobretudo pela crescente agressividade com que se comportam, alimentando-se da conflitualidade social resultante da crise.

A Europa de hoje começa a perder o seu rumo de convergência política, e torna-se necessária uma abordagem pragmática à principal evidência comum aos povos europeus:

Os europeus não querem a união política com que Bruxelas sonha.

Karl Deutsch escrevia que "as Relações Internacionais são demasiado importantes para serem deixadas para os especialistas". Essa posição é sustentada pela necessidade da 
afirmação da política, e dos políticos, para definir a visão, a estratégia e tomar as decisões que o sistema executa.
Deutsch estudou profundamente os modelos de funcionamento dos sistemas políticos, mas sempre destacou a importância do factor humano, nos processos de decisão.
Acredito que o perfil dos dirigentes políticos Europeus, a incapacidade de lidar com o fracasso da Constituição Europeia , e a conjuntura de crise, deixaram o projecto Europeu à deriva.

Urge repensar a estratégia e o caminho para a atingir, e apresentar um novo projecto, de forma clara e transparente aos povos europeus.
Porque um Sistema Político Europeu sem consensos validados pelos povos, não passa de uma estrutura oca, opressiva e condenada a desaparecer, com consequências políticas e sociais gravíssimas. 
Estamos ainda muito longe de uma realidade semelhante às conjunturas que precederam as Guerras Mundiais do Séc.XX, mas seria uma irresponsabilidade perigosa ignorar os sinais.


Defendo assim uma mudança na Europa, mas uma mudança de projecto político, que passe por alguns destes princípios:

  • Aprofundar as relações entre os povos, sem esmagar as soberanias nacionais.
  • Definir estratégias económicas comuns que reforcem a competitividade das economias nacionais, com o apoio de mecanismos reguladores fortes.
  • Definir regras de concorrência exigentes entre blocos económicos.
  • Assumir, política e financeiramente, a necessidade de uma Política Comum de Segurança e Defesa, que saia do papel e seja efectiva.
  • Desenvolver um novo modelo de políticas de coesão, que não passe simplesmente pelos handouts dos fundos comunitários. 


Em conclusão, partilho das preocupações de Mário Soares, mas não subscrevo a "solução milagrosa" vinda dos EUA.
Como leitor assíduo de bandas desenhadas na minha infância, nunca me esqueço que, tanto na literatura como no cinema americano, a "cavalaria" chega sempre, mas sempre depois de terminado o combate...
Não deixo de notar (sorrindo) que Mário Soares, que se confessava ateu em 1998, tenha esta atitude de fé nos amigos americanos.
Quem o viu e quem o vê.